Documentário da Netflix mostra face perturbadora do criador da Bikram Yoga

Em "Bikram: yogi, guru e predador", ex-alunas falam sobre o comportamento megalomaníaco, machista e abusivo do guru indiano, criador da modalidade também conhecida como hot yoga

Um homem megalomaníaco, racista, gordofóbico e misógeno em nada se assemelha à imagem que você faz de um grande mestre da yoga, certo? Mas essa é a face que “Bikram: yogi, guru e predador”, lançado no final de 2019 pela Netflix, exibe do criador da Bikram Yoga. A técnica que hoje conhecemos também como Hot Yoga é uma sequência de 2 exercícios de respiração e 26 asanas (posturas) realizada numa sala aquecida a mais de 40 graus.

Durante 1h26min do documentário, acompanhamos a trajetória de Bikram Choudhury pela América, onde o indiano chegou nos anos 70 e se tornou o queridinho dos hipsters da época. Aos poucos, suas aulas caíram nas graças de celebridades de Hollywood. A lista vip de alunos que ele tinha ou alegava ter (ele jurava já ter dado aula para Elvis Presley, o presidente americano Nixon, o beatle George Harison e a diva Barbra Streisand), sua aparência e personalidade excêntricas (por causa do calor, Bikram ministrava seus treinamentos vestindo uma minúscula sunga preta – e, após enriquecer, um relógio Rolex) o levaram a diversos programas de TV.

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O iogui aproveitava toda oportunidade para caprichar no marketing pessoal. “Você nunca vai conhecer um ser humano nesta Terra mais puro do que eu”. “Eu sou a pessoa mais espiritualizada que você vai conhecer, mas, hoje, você não tem idade, sabedoria e experiência para saber quem eu sou.” Frases como essas foram ditas pelo iogui a jornalistas que os entrevistaram. Assim, Bikram foi se tornando ele mesmo uma celebridade – e empresário, dono de uma franquia global de estúdios com seu nome.

Aulas intensas e palavras ofensivas

“Bom dia, pessoal! Bem-vindos à aula de Bikram Yoga. Vocês vão se matar nos próximos 90 minutos”, diz Bikram em um dos vídeos resgatados pelo documentário. A promessa não era vazia: os treinos de Bikram Yoga são bastante intensos e o calor coloca a mente em uma situação de desconforto. Em meio a cenas que demonstram as posturas da Bikram Yoga e o efeito positivo que a técnica é capaz de promover na vida dos alunos, o filme mescla cenas constrangedoras em que o guru ofende praticantes diante das classes lotadas, às vezes disfarçando xingamentos e preconceitos com tom de piadas, às vezes sendo curto e grosso no seu objetivo de humilhar os alunos – sobretudo as mulheres.

Para participar de um de seus concorridos cursos de formação – uma exigência para qualquer um que quisesse abrir um estúdio com sua técnica -, era necessário se esforçar até a última gota de suor para atingir a perfeição dos movimentos. O treinamento também doía no bolso: era preciso desembolsar mais de 10 mil dólares por pessoa – dinheiro que fazia com que Bikram pudesse sustentar seu apreço por grifes, Ferraris e carros antigos. “Não combina muito com um iogue”, pondera uma jornalista em entrevista reproduzida no documentário. “Depende do tipo de iogue. Eu sou um iogue americano”, responde rindo. 

De guru a réu

Seis mulheres entraram com processos contra o guru por crimes como discriminação de gênero, racismo, assédio sexual e estupro. Brikram foi acusado de usar sua influência para abusar da confiança e da devoção das alunas, principalmente daquelas que ele percebia mais vulneráveis.  O juri o condenou a pagar mais de 7 milhões a sua ex-advogada, a primeira vítima a denunciá-lo. Para escapar da decisão, Bikram fugiu dos Estados Unidos, mas ainda viaja o mundo ministrando cursos de formação para professores – em 2019, lotou classes no México e na Espanha.

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O único lado positivo da história é que, como Bikram nunca pagou a indenização que devia, sua ex-advogada recebeu da Justiça o direito sobre a marca como forma de compensação financeira. Dessa forma, a prática – que é um ótimo exercício para corpo e mente – vem conseguindo se desvincilhar da imagem manchada de seu criador. Mesmo assim, inúmeros estúdios mudaram o nome de Bikram Yoga para Hot Yoga, para não restar dúvidas de que Bikram não é mais um guru. 

 

 

 

 

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