Como a atividade física pode ajudar a reduzir os sintomas da asma

Ao contrário do que se pensa, pacientes com asma podem, sim, praticar qualquer atividade física!
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Se você sente que a asma tem se tornado cada vez mais comum, saiba que não é impressão. Claro que casos recentes, como a morte da escritora Fernanda Young após uma crise, chamam a atenção. Mas a incidência do problema respiratório realmente aumentou nos últimos anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença atinge 235 milhões de pessoas em todo o planeta. Os culpados por esse boom? Poluição, stress e sedentarismo.

A boa notícia é que, enquanto os diagnósticos aumentam, os tratamentos também evoluem, garantindo vida normal para quem se cuida direitinho. Dá até para praticar atividade física de alta intensidade, sabia?  “Muitas pessoas ainda evitam a prática de alguns esportes por receio de desencadear uma crise; mas, ao contrário do que muitos pensam, a asma, sem bem controlada, não é sinônimo de limitações na rotina. Se quiser, a pessoa não só pode praticar exercícios como pode vir a se tornar atleta”, esclarece José Roberto Megda, pneumologista da Residência de Clínica Médica do Hospital Universitário de Taubaté (SP). E não é preciso se restringir à natação!

Causas da asma

Na maior parte da vezes, a asma é uma inflamação alérgica dos brônquios – suas células sofrem uma irritação ao entrar em contato com determinados agentes. “Alguns desses agentes, por si só, não desencadeariam uma inflamação – é o caso de pelo de animais, por exemplo -, mas, por causa de uma desregulação do sistema imune do paciente, o organismo entende como agressor e tenta combatê-lo, gerando a inflamação”, explica o pneumologista Rodrigo Abensur Athanazio, de São Paulo.

Ácaros, pólen, fumaça, pelos de animais e poluentes são alguns dos fatores desencadeadores de uma crise de asma, mas o stress também engrossa essa lista. “Hormônios como o cortisol reduzem a passagem de ar nas vias respiratórias, porque levam à contração do músculo dos brônquios”, explica José Roberto.

O tempo seco ou frio também piora o problema, já que algumas substâncias alérgenas como poeira, poluição e pelos de animais, ficam no ar por mais tempo, podendo desencadear a asma e outras doenças como rinite, ou gripe por exemplo. Por isso no inverno temos um aumento no número de crises de asma.

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Sintomas

A cada 18 horas, uma pessoa morre em decorrência da asma no Brasil, de acordo com pesquisa do Datasus, realizada em 2018. “Todas essas mortes são evitáveis”, afirma Rodrigo. Isso porque mais de 95% delas ocorrem em adultos com fatores de risco identificáveis ​​e mais de 85% das mortes por asma decorrem não da forma aguda, mas do agravamento progressivo do quadro. “Muitos pacientes acreditam que, por terem asma, devem conviver com os sintomas. Mas eles precisam deixar de lado o conformismo com a doença e ir em busca de uma vida normal”, diz Rodrigo. Para isso, consulte um alergologista ou pneumologista.

Para identificar uma crise de asma, é preciso ficar atenta aos sintomas, que podem se assemelhar aos de gripe, como tosse seca ou com secreção, e vir associados a uma rinite, que leva a queixas de nariz entupido, espirros e coriza. Além disso, os pacientes também apresentam chiado no peito, dificuldade para respirar e sensação de aperto na região do tórax. “A intensidade dos sintomas varia, assim como a frequência, mas são mais comuns pela manhã ou no fim do dia”, alerta José Roberto.

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Tratamento

As asma é uma doença crônica, ou seja, que não tem cura. Mas, se controlada, permite que você leve uma vida completamente normal. “Alguns pacientes, seja por causa do tratamento, por não entrarem em contato com elementos que desencadeiam os sintomas, seja até mesmo por perceberem muito pouco seus sintomas, podem passar meses ou anos sem apresentar crises de falta de ar e, por isso, acreditam ter sido curados”, diz José Roberto. No entanto, se não fizerem o tratamento adequado, correm o risco de voltar a ter crises.

Existem atualmente dois pilares para o tratamento: “o uso de remédios anti-inflamatórios, para controle do processo inflamatório da doença, e dos broncodilatadores, que abrem os brônquios, permitindo uma melhor passagem de ar e, consequentemente, diminuindo rapidamente os sintomas do paciente”, explica Rodrigo.

Não deixe para buscar essa ajuda só quando estiver em meio a uma crise e, uma vez orientada, siga o tratamento direitinho – e até o final. Mais de 80% dos pacientes não usam seus dispositivos inalatórios corretamente e pelo menos 50% deles não fazem uso de suas medicações controladoras conforme a prescrição do médico, segundo a  Iniciativa Global Contra a Asma (GINA). Nada de parar por conta própria assim que os sintomas melhorarem!

Para prevenir crises e controlar a asma, o tratamento inclui hormônios de ação anti-inflamatória, como corticoides inalatórios. Ouviu “corticoide” e já torceu o nariz? “Eles são extremamente eficazes e oferecem baixíssimo risco de efeitos colaterais, diferentemente dos que são usados por longos períodos por via oral”, garante Rodrigo. Mas e as bombinhas? Os dispositivos inalatórios permitem que o remédio seja entregue diretamente para os brônquios, sem absorção sistêmica, melhorando a segurança. Existem dispositivos que já combinam os dois para facilitar o tratamento.

Para pacientes mais graves, em que os outros medicamentos não surtiram o efeito esperado, há os imunobiológicos. “São moléculas que bloqueiam especificamente uma via inflamatória do nosso organismo. É o que chamamos de medicina personalizada porque atinge especificamente a via inflamatória mais importante daquele determinado paciente”, afirma Rodrigo.

Asma e atividade física combinam sim

A natação é mesmo um ótimo esporte para quem tem asma. Mas não só ela! Todo exercício é bem-vindo. A ideia de que quem tem a doença não deve fazer atividades mais intensas até tem um fundinho de verdade: sintomas e crises podem, sim, surgir após algum tipo de esforço físico. “Mas estudos apontam que a prática deles é muito mais benéfica”, diz José Roberto. “Ao realizar atividades aeróbicas três vezes por semana, você ajuda a fortalecer a musculatura do tórax e, consequentemente, os pulmões também. Isso faz com que a sensação de falta de ar se torne menos frequente”, completa o médico.

Fora que o sedentarismo e a obesidade são considerados fatores agravantes da asma. “Eles influenciam no condicionamento físico e no padrão respiratório do paciente, podendo levá-lo a ter um maior descontrole da falta de ar”, explica Rodrigo. Portanto, praticar esportes não só é liberado, como é indicado pelos médicos porque ajuda a controlar o peso, melhora a disposição e reduz o stress. “Além disso, trabalhos do nosso grupo na USP, ainda em andamento, mostram que a realização de atividade física pode por si só ajudar no controle da inflamação da asma”, diz Rodrigo.

A grande maioria dos pacientes, realizando o tratamento corretamente e de forma contínua, consegue ter sua função pulmonar totalmente normalizada e aí qualquer atividade física fica liberada – até corrida e crossfit. Só é importante compartilhar com seu pneumologista a intenção de começar uma nova modalidade, ok?

Pacientes com doença mais grave precisam de liberação médica e de orientação sobre a intensidade do exercício que estão aptos a fazer. “O paciente pode, inclusive, usar o broncodilatador inalatório antes do exercício pra evitar a ocorrência de crises de falta de ar”, explica Rodrigo. Se durante o treino, você apresentar falta de ar excessiva, aperto no peito e chiado, interrompa imediatamente o exercício e use o seu broncodilatador de resgate.

Mas o local de treino importa

Outro ponto que deve ser levado em conta é onde as sessões de malhação vão ocorrer, já que poluentes e mudanças climáticas funcionam como gatilhos para crises. Dessa, nem a natação escapa. “Ela exige cautela de pacientes com sensibilidade ao cloro, já que algumas piscinas usam este agente para controle de limpeza”, diz Rodrigo. De modo geral, se você mora em centros urbanos, evite exercícios em avenidas muito movimentadas, onde há grandes níveis de poluição, e em horários de temperaturas extremas. Seguindo o tratamento direitinho e estando bem informada sobre seu quadro, dá para fazer, sim, aquele funcional na academia, cruzar a linha de chegada de uma corrida ou praticar yoga no parque!

Reportagem Juliana Diniz e Marina Campos

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