Ansiedade: sintomas, tratamentos e como lidar com o transtorno

Tudo sobre o problema que mais afeta nossa saúde mental
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Frio na barriga, coração acelerado e falta de ar. Pode ser aquela sensação gostosa de euforia quando se está apaixonada, ou quando a banda favorita está prestes a entrar no palco de um show comprado há meses. No entanto, para milhões de pessoas no mundo inteiro, esses sintomas anunciam o início de um verdadeiro pesadelo, conhecido como crise de ansiedade.

A ansiedade é uma reação natural do organismo e pode ser positiva, pois nos coloca em ação em situações de perigo, mas em excesso, torna-se um problema – que é muito mais comum do que se imagina. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com mais pessoas ansiosas no mundo: 9,3% da população possui transtorno de ansiedade, enquanto os Estados Unidos, segundo colocado na lista, tem 6,3%.

Além disso, as mulheres sofrem mais de ansiedade do que os homens. Não dá para ignorar: se o frio na barriga é constante e vem acompanhado de sentimentos como medo, preocupação e insegurança, é preciso reconhecer a ansiedade e tratá-la da forma correta.

Existem diferentes tipos de ansiedade?

O espectro da ansiedade é muito amplo e composto por vários tipos diferentes, como fobias específicas, ataques de pânico, stress pós-traumático, síndrome de burnout e ansiedade de separação, entre vários outros. No entanto, alguns profissionais preferem não restringir a ansiedade, já que cada paciente possui gatilhos diferentes para o transtorno e devem ser tratados de forma singular: “É preciso pensar no que a ansiedade significa para o indivíduo, qual a sua representação simbólica”, explica Rafael Rodrigues, psicólogo clínico.

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A ansiedade torna-se um problema quando não vai embora. Pode ser definida como um estado emocional caracterizado pela tensão, nervosismo e inquietação, em que a pessoa nunca está no tempo presente, mas sim, focada no passado ou futuro.

Outro ponto em comum entre pessoas ansiosas é a necessidade de controle, seja sobre coisas, situações, seja sobre pessoas – e a falta desse controle é o que desencadeia a ansiedade. Apesar de tudo isso, o que desperta o transtorno em cada pessoa pode variar entre episódios traumáticos, fatores externos, stress excessivo e mudanças de rotina, entre vários outros motivos.

Principais sintomas

Os sinais de que a ansiedade está tomando conta podem ser tanto físicos, quanto comportamentais. Começa com uma leve preocupação, somada ao medo sem motivo aparente capaz de evoluir até para graves sintomas físicos. “Quando não é tratada, a ansiedade chega a um nível que pode desencadear ataques de pânico”, alerta a psicóloga Marilene Kehdi, especialista em atendimento clínico.

São alguns indícios de ansiedade:

  • Tensão muscular;
  • Formigamento em várias partes do corpo;
  • Coração acelerado;
  • Falta de ar;
  • Sudorese;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldades de concentração;
  • Distúrbios do sono;
  • Preocupação excessiva.

O ataque de pânico acontece quando a ansiedade é tão grande que a pessoa perde totalmente o controle sobre si. Pode ser descrito como uma situação momentânea e inesperada de muito stress, confusão mental, perda dos sentidos, medo e sensação de que algo ruim está prestes a acontecer. “A maioria das pessoas sente que vai morrer, é uma situação caótica”, ressalta Rafael. Além disso, quem passa por um ataque de pânico carrega essa lembrança negativa para o resto da vida, que pode inclusive despertar momentos de ansiedade pelo medo de voltar para essa situação ruim.

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Por que somos tão ansiosas?

Parece quase impossível impedir a ansiedade quando levamos uma rotina tão frenética e estressante. A vida nas grandes cidades é, geralmente, associada aos transtornos mentais e psicológicos, e algumas condições explicam este fenômeno: “Existem fatores socioeconômicos, como o medo de perder o emprego, a falta de segurança, fatores ambientais, que tendem a causar o aumento da ansiedade nas pessoas”, explica Marilene. Locais com melhores políticas públicas, estabilidade econômica e maior nível educacional costumam ter uma população menos ansiosa.

Entre as mulheres, o que talvez explique a maior incidência é a jornada dupla, o acúmulo de funções e a exigência no ambiente de trabalho. Embora os gatilhos para cada uma sejam muito individuais, atualmente as mulheres possuem rotinas dinâmicas, equilibrando o trabalho, cuidados com os filhos e várias outras atividades. “É uma herança civilizatória. A mulher se sente muito cobrada para fazer as coisas”, destaca Rafael. Lidar com um dia cheio e com o sentimento de culpa por não estar dando atenção para a família reforça a ansiedade e a sensação de falta de controle.

Tratamento

Tudo começa com a percepção de que o sentimento está crescendo e pode se tornar um problema ainda maior, se não for tratado. “Quando a pessoa enxerga que está muito inquieta, com preocupações futuras, é preciso focar a atenção nisso e mudar o estilo de vida para não adoecer”, sugere Marilene. Os sintomas físicos são um bom sinal de que um tratamento psicológico deve ser adotado.

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Os caminhos para tratar a ansiedade são a psicoterapia e, em alguns casos, o uso de ansiolíticos, remédios que ajudam no controle de crises ansiosas – indicados apenas após o diagnóstico de um psiquiatra. Embora os tratamentos possam caminhar sozinhos, a terapia é altamente recomendada, pois ajuda a identificar as causas e os gatilhos específicos da pessoa – o que contribui para controlar a ansiedade de forma mais efetiva e duradoura. “Ela tem a capacidade de nos incentivar a fazer os enfrentamentos necessários para diminuir a ansiedade”, ressalta Rafael.

Por fim, manter um estilo de vida saudável, com prática de exercícios físicos, ajuda, mas tudo deve ser adequado à rotina do ansioso. Não adianta ir para a academia e querer fazer mais atividades do que o corpo consegue, correndo o risco de sofrer lesões. “Atividades mais genéricas, como leitura e exercícios, podem surtir efeito contrário e potencializar a ansiedade”, alerta Rafael. É preciso ir com calma e respeitar o tempo de cada um!

 Prevenção

 Algumas dicas são válidas para não deixar a ansiedade tomar conta da nossa rotina. Uma delas é simplesmente diversificar as atividades do dia a dia: “Mudar o repertório ajuda a diminuir a ansiedade, porque nos coloca em contato com o desconhecido, com coisas que fogem do nosso controle”, explica Rafael. Se a sua ansiedade tem a ver com essa necessidade de controle, a recomendação é treinar a mente para, justamente, aceitar que não dá para controlar tudo quanto o desejado.

Além disso, desacelerar a rotina e respirar profundamente logo ao sentir os primeiros sinais de ansiedade, também ajuda a frear a evolução do quadro. Se o trabalho está muito estressante ou você assumiu mais tarefas no dia do que consegue realizar, é interessante dar um passo para trás e fazer uma reavaliação. “Nós não podemos deixar que a ansiedade assuma o controle. É preciso identificar se a rotina está levando aos sintomas e mudar essa forma de viver”, comenta Marilene.

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Aceitar essa falta de controle pode ser estressante, mas ao mesmo tempo, libertador. Cada vez mais, fica claro que não dá para prever o futuro, e por meio da aceitação é possível tomar as rédeas das pequenas coisas que ainda podem ser controladas, como manter uma certa disciplina, escolher como reagir às situações e se adequar às enormes listas de afazeres, respeitando os próprios limites.

Viver o agora e estar consciente sobre os próprios sentimentos são algumas fórmulas que deixam a vida mais leve. “Esse exercício de aceitação da nossa incapacidade de controle sobre tudo, além de diminuir a ansiedade, permite contemplar um pouco mais os acontecimentos da vida”, conclui Rafael.

Reportagem Camila Junqueira

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