Burnout digital: por que você deve rever sua relação com os aparelhos eletrônicos

Mais tempo com gadgets, menos tempo com gente: o excesso de tecnologia está nos deixando exaustos. Veja como prevenir um colapso mental
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Qual é a primeira coisa que você faz ao acordar? E antes de dormir? Não vamos estranhar se sua resposta for checar o celular — afinal, se a nossa relação com esse dispositivo já beirava o vício alguns anos atrás, nos últimos tempos ela foi potencializada pela pandemia. 

Mas ainda bem que a gente pôde contar com as ligações de vídeo, as mensagens via aplicativo e até as curtidas nas redes sociais, não é mesmo? A tecnologia foi imprescindível para mantermos uma certa “normalidade” dentro do caos que estava acontecendo (sem ela, não daria para matar a saudade dos amigos e familiares, fazer reuniões importantes nem estudar). 

O problema é que os dispositivos eletrônicos já estão tão presentes na nossa rotina que ficar um tempo sem eles está fora de cogitação. São inúmeros e-mails de cliente, mensagens do chefe no WhatsApp, discussões de grupos de trabalho no Slack, reunião por Zoom das 9h às 21h…  Bate a sensação de não saber o que priorizar, de que não somos capazes de lidar com as tarefas do dia a dia.

Quando nos damos conta, não desconectamos nem mesmo para almoçar – afinal, é preciso estar disponível o tempo todo – e ainda levamos as telas para a cama, o que prejudica o sono. Esse looping nada saudável fez surgir um novo termo: o burnout digital, um tipo de esgotamento emocional relacionado à tecnologia.

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Mais tempo de tela e a fadiga do Zoom

O crescimento no uso de eletrônicos já tem suas consequências. Em uma pesquisa, organizada pela empresa OnePoll e feita com cerca de dois mil americanos, 53% dos entrevistados afirmaram estarem sentindo um certo grau de fadiga tecnológico nos últimos meses. 

Também pudera: antes da pandemia, a população dos Estados Unidos passava, em média, quatro horas por dia atrás das telas. Durante a quarentena, esse número pulou para seis horas diárias. A maioria dos pais (71%) também anda se preocupando com o tempo que as crianças menores de 12 anos gastam usando os dispositivos eletrônicos. 

Trabalho em regime de home office, educação à distância e necessidade de isolamento social foram os principais fatores que nos influenciaram a não desgrudar mais das telas. 

Recentemente, a Universidade de Stanford chamou de “fadiga do Zoom” a sobrecarga causada pelo uso quase ininterrupto de aplicativos de chamadas de vídeo, que substituíram os encontros presenciais durante a pandemia.  Os pesquisadores apontaram alguns fatores responsáveis por esse tipo de stress mental: 

    • A frequência de contato visual e o tamanho dos rostos na tela não são naturais, o que faz com que nosso cérebro interprete a situação como um momento de tensão que deve levar ou ao acasalamento ou a uma briga
    • Ver a si mesmo o tempo todo faz com que a gente fique mais crítico com a gente mesmo
    • Chamadas de vídeo limitam nossa mobilidade, o que diminuiu o desempenho cognitivo
    • Temos que nos esforçar mais para emitir e interpretar sinais não-verbais

Consequências reais

O uso excessivo da tecnologia pode ser prejudicial à saúde — tanto física quanto mental. “Ele pode desencadear alguns sintomas: dificuldade para socializar, irritabilidade, humor instável, insônia, ansiedade e necessidade de estar conectado o tempo todo”, diz a psicóloga Sirlene Ferreira, de São Paulo. 

De acordo com o psicólogo Alexander Bez, sensação de esgotamento físico e/ou mental, perda de interesse nas atividades do trabalho, dificuldade de concentração e baixa autoestima também indicam que a relação com a tecnologia não está boa. “E ainda temos a Síndrome de FOMO (Fear Of Missing Out), que é uma patologia psicológica caracterizada pelo medo de ficar fora do mundo tecnológico”, complementa o profissional. 

Por isso, acenda o sinal de alerta se você tiver estes sintomas do burnout digital: 

  • Não consegue ficar longe do celular 
  • Tem dificuldade em cumprir as tarefas diárias 
  • Está mais afastada dos amigos e dos familiares
  • Fica mau humorada com frequência
  • Sente angústia ao não ter internet/bateria
  • Troca, com frequência, o sono ou as refeições para ficar conectada
  • Já foi alertada por alguém sobre o tempo que passa na internet

Existe bem-estar digital

Aprender a conciliar as atividades no mundo virtual com as do mundo real é extremamente importante para a sua saúde mental. Veja como evitar as consequências negativas do uso exagerado das telas: 

1) Comece com um “detox”

“Filtre e bloqueie todos os conteúdos que não são saudáveis para você. A sensação de estar nas mídias sociais tem que ser leve”, aconselha Alexander Bez. 

E isso vale para os perfis que mostram mundos completamente irreais, conteúdos que estimulam uma certa positividade tóxica e, principalmente, fake news

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2) Não leve o celular para a cama

Antes de dormir e ao acordar, fique longe dos dispositivos eletrônicos. A luz azul emitida por esses objetos bloqueia a liberação de melatonina — hormônio diretamente ligado ao sono. Ao atrapalhar o funcionamento dessa substância, reduzimos a capacidade do nosso organismo de diferenciar quando é noite e quando é dia, aumentando o risco de insônia. 

O que fazer no lugar? Leia, medite, escreva…

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3) Faça pequenas pausas

Quem trabalha em frente ao computador precisa fazer pausas. O ideal é que elas sejam realizadas a cada uma hora — mas a cada duas também é válido. 

E nada de usar o tempo de descanso para checar as redes sociais, viu? Tome um café, converse com alguém ou apenas coloque o corpo em movimento! 

4) Alongue! 

Nossos ombros, costas, pescoço e braços agradecem. Passar o dia todo na mesma posição, somado à tensão causada pelo stress diário, pode provocar dores e até lesões. Reserve 15 minutos do seu dia para a prática de alongamentos. 

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5) Use a tecnologia para ficar longe da tecnologia

Pode parecer contraditório, mas existem apps que te ajudam a controlar o tempo que você passa no celular – Flipd, Moment e Forest são bons exemplos. E o próprio Instagram mostra a média diária de horas que você gasta na ferramenta.

Reportagem Amanda Panteri

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