Depressão: causas, sintomas e tratamentos

Não é frescura: a depressão é uma das doenças de saúde mental mais recorrentes no mundo - principalmente entre as mulheres
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Quantas vezes você ouviu alguém falar que passou por um episódio depressivo? A depressão é uma doença crônica, que afeta a saúde mental em níveis arrasadores e é muito mais frequente do que se imagina. Embora os sintomas sejam muitas vezes subestimados e vistos até com preconceito – como uma “frescura”, depressão é coisa séria: mais de 300 milhões de pessoas no mundo, de todas as idades, sofrem com o transtorno.

A doença é a principal causa de incapacidade e, assim como acontece com a ansiedade, as mulheres são mais afetadas do que os homens, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Ficar na cama por vários dias seguidos, perder o interesse em atividades anteriormente prazerosas e não conseguir sair de um estado de tristeza profunda são alguns sinais da depressão, que pode ter vários motivos e ser bastante cruel – mas calma, há uma luz no fim desse túnel!

Por que comigo?

A depressão é uma doença multifatorial, ou seja, pode acontecer por uma série de razões. Ela também se apresenta de formas diferentes, os chamados subtipos da depressão: tem a depressão endógena, causada por questões hereditárias, a depressão pós-parto, o transtorno depressivo maior… “A depressão envolve causas internas, externas e ambientais e qualquer pessoa pode passar por isso em algum momento da vida”, explica a psicóloga Camila de Cássia Ribeiro, da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo.

Apesar das diferentes definições, é possível traçar uma relação próxima entre eventos estressantes e traumáticos e episódios depressivos, principalmente em quem já possui uma predisposição genética: “Síndromes ou reações depressivas surgem com muita frequência após perdas significativas, seja de uma pessoa muito querida, de um emprego, moradia, status socioeconômico, seja até de algo simbólico”, aponta a psicóloga Andréa Ferrari Carvalho de Agrela, também da Rede de Hospitais São Camilo, de São Paulo.

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O fator genético deve ser levado em conta no diagnóstico de um transtorno depressivo, já que aumenta em até 40% o risco de surgimento da doença, por qualquer motivo. No cérebro, o que acontece é uma deficiência de alguns neurotransmissores importantes – noradrenalina, serotonina e dopamina – ligados a atividade motora, apetite, sono e humor.

Outros tipos comuns de depressão são a sazonal, que aparece em épocas específicas do ano – geralmente no inverno ou em datas comemorativas; a distimia, depressão leve e persistente; a depressão atípica, cujo humor oscila muito entre felicidade e tristeza; depressão causada pelo abuso de substâncias, como álcool, drogas e medicamentos; depressão causada por outras doenças, como distúrbios da tireoide ou demências em geral; e o transtorno depressivo grave, que possui sintomas psicóticos como delírios e alucinações. A lista de subtipos é ainda mais extensa, e é revisada frequentemente por uma série de pesquisas na área.

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Principais sintomas da depressão

Como outras doenças que afetam a saúde mental, a depressão pode se manifestar de várias formas. Os sinais mais claros apontam uma tristeza profunda e persistente e a falta de vontade em realizar atividades do dia a dia, acompanhados de cansaço e desânimo. “Devemos nos atentar para aquela tristeza que não é passageira, que é duradoura e está atrapalhando a vida”, destaca Camila. Se você passou por uma situação traumática, a atenção aos seguintes sinais deve ser redobrada:

  • Excesso ou falta de sono e apetite
  • Dificuldades para trabalhar ou estudar
  • Problemas de concentração e memória
  • Ansiedade e angústia persistentes
  • Desinteresse em realizar atividades diárias
  • Dores no corpo
  • Diminuição da libido
  • Cansaço excessivo
  • Irritabilidade e nervosismo
  • Pensamentos negativos
  • Baixa autoestima, sensação de incapacidade
  • Diminuição na fala e nas atividades motoras

A maioria dos sinais são clássicos de um transtorno depressivo. É comum observar o recolhimento e a tendência da pessoa a ficar mais quieta, normalmente relacionada ao sentimento de tristeza. “O indivíduo passa a se isolar, a ter uma baixa energia para realizar qualquer coisa”, aponta Camila. Por ser uma doença crônica, a depressão não tem uma cura definitiva e pode surgir em vários momentos ao longo da vida – os tratamentos, no entanto, são bastante eficazes no controle dos sintomas e devem ser levados a sério, para que você possa retomar uma boa qualidade de vida. “É fundamental a adesão ao tratamento, porque uma vez interrompido, por conta própria ou uso inadequado da medicação, as chances de controle da doença diminuem”, alerta Andréa.

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Mulheres são mais depressivas que os homens

As mulheres carregam consigo uma carga enorme de cobranças, pressão social e atividades diárias, além da influência de diversos hormônios que podem afetar a saúde mental em processos como a menstruação, gravidez e menopausa. Por isso, não é surpresa que elas engrossem mais as estatísticas do que os homens. “Essa combinação de hormônios alterados, mudanças orgânicas no cérebro e stress cotidiano contribuem para que as mulheres sejam mais afetadas pela depressão”, aponta Camila.

A TPM pode trazer consigo algumas características da depressão, em alguns casos. Já após o nascimento de um bebê, a depressão pós-parto entra em cena em mais de 25% das mães brasileiras, de acordo com um estudo da Fiocruz. As flutuações hormonais relacionadas aos dois momentos podem contribuir para o desequilíbrio de neurotransmissores no cérebro, mas a predisposição e outros sentimentos externos também interferem no surgimento de um quadro depressivo.

Além de tudo isso, um estudo da Universidade da Califórnia levantou outra hipótese para a maior incidência de depressão em mulheres. A pesquisa investigou o cérebro de 115 participantes, de ambos os gêneros, para ver como acontece a resposta a estímulos prazerosos em quem possui algum  distúrbio inflamatório. O resultado? As mulheres que tiveram uma inflamação induzida no tecido cerebral apresentaram menor resposta das substâncias ligadas ao bem-estar em relação aos homens que também foram induzidos e ao grupo placebo. Isso pode explicar a relação entre depressão e doenças inflamatórias crônicas, como lúpus, fibromialgia, entre outras.

Tratamento

Os tratamentos para a depressão são clássicos: psicoterapia e, dependendo do caso, medicamentos antidepressivos. É importante seguir com um acompanhamento profissional, com psicólogos ou psiquiatras, até que aconteça a remissão dos maiores sintomas, que já possibilitam levar a vida normalmente. “É importante a pessoa buscar a avaliação de um psicólogo e fazer um diagnóstico o quanto antes para que os sintomas não se agravem com o passar do tempo”, ressalta Camila.

A escolha da medicação é feita com base no subtipo da depressão, fatores genéticos e na resposta à substância – por isso é tão importante buscar um profissional. Já na terapia, o tratamento procura reverter os padrões de pensamento e eliminar a tristeza constante sentida em episódios depressivos. “Durante a psicoterapia, a mudança de hábitos e estilo de vida torna-se um dos objetivos a serem alcançados”, comenta Andréa.

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Não há muitas evidências científicas que comprovem ser possível evitar a depressão, mas um estilo de vida saudável é a forma mais indicada de prevenção contra a doença. Se você leva uma rotina de sono regular, tem uma dieta equilibrada e inclui momentos de descontração no dia a dia, você já está contribuindo – e muito! – para sua saúde mental. “A prática de atividade física aumenta a liberação de endorfina, hormônio do prazer, entre outros neurotransmissores por trás da sensação de bem-estar, e tudo isso melhora a qualidade de vida”, pontua Andréa.

Claro que nem sempre é fácil, mas evitar relações sociais tóxicas e lidar bem com o stress também são artifícios contra a depressão. O importante é estar atenta à rotina para não se deixar sobrecarregar: “Busque atividades prazerosas, períodos de lazer para aliviar as tensões do cotidiano”, conclui Camila.

Reportagem Camila Junqueira

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